Sempre utilizo da metáfora de um saco cheio de pedras para falar sobre os traumas.
Explico aos meus pacientes que a cada evento traumático que vivemos é como se fosse uma pedra que colocamos dentro de um saco e carregamos nas costas.
Estas pedras pesam e nos tiram a energia de viver, minam nossa vida e o cansaço toma conta do nosso ser.
Alguns decidem por buscar ajuda e se desfazerem deste peso.
Quando iniciamos o processo psicoterapêutico dentro da Terapia EMDR, a cada sessão o paciente vai deixando uma destas pedrinhas para trás, a vida vai ficando mais leve e com mais orientação para o presente e futuro. A energia vital ressurge dando um novo significado a existência.
Usei esta metáfora com meu paciente José, no dia seguinte ele presenteou-me com um lindo poema.
Fiquei emocionada ao receber sua obra literária que descreve fielmente aquilo que se passa conosco frente as nossas feridas emocionais não curadas.
É com muita honra que compartilho com vocês este lindo presente.
“De José Moacyr Doretto” Pedras.
Na senda da vida carregamos pedras,
Que se avolumam na sacola da alma,
Pesam, cansam, castigam e se aderem,
Como se fossem a própria epiderme.
Quando novos o vigor da vida as suportam,
E quando na meia idade quem se cansa é a alma,
A perna fraqueja, a boca treme, o horizonte escurece,
Com os lábios frêmitos tomando o chão duro.
Ali as pedras são ancoras atadas à lama,
Imobilizam, paralisam, mortificam.
Mas a pedra que pesa pode ser muro,
Pode ser ponte, pode ser arma.
Se uma mão se direciona à alma,
E alma se abre ao imperativo de viver,
As pedras são vomitadas e se arquitetam em escadas.
Das pedras arrancadas há que pavimentar o chão,
pacientemente, caminho que se deseja caminhar
sem o peso de viver em pesar.
Curar as feridas emocionais é se desfazer de um fardo que carregamos sem necessidade.
Sinto-me honrada em ser a mão direcionada a alma daqueles que procuram pelo meu trabalho.
Cuide-se, invista em você!