Você sabia que o vínculo estabelecido entre nossos cuidadores e nós até os nossos 3 anos de idade influencia na forma que nos relacionamos com as outras pessoas e com o mundo?
Os projetos do presente para a vida amorosa, profissional e pessoal podem não estar dando certo por conta de experiências vividas na mais tenra idade.
Segundo a Teoria do Apego desenvolvida por John Bowlby, do nascimento até os 3 anos de idade é desenvolvido e determinado o sentimento de segurança da criança. Para Bowlby esse período é a pedra fundamental de segurança para nos sentirmos protegidos ou não no mundo.
Por isso é raro algum individuo passar ileso por isso período. Isso acontece porque nessa fase somos completamente dependentes dos nossos cuidadores. Esses, mesmo quando se dedicam aos filhos o máximo possível, são possuidores de feridas emocionais e problemas da vida adulta que dificultam o estabelecimento de um apego seguro e saudável conosco.
Segundo a teoria do apego, nesse período estabelecemos a forma que vamos reagir durante toda a vida ou até que tomemos consciência e vamos em busca de ajuda psicológica para entender e tratar o que acontece conosco.
Se no início da vida entendo que o mundo me ataca, eu luto. Se o mundo abusa do meu corpo, saio dele (dissocio). Se o mundo fizer de mim uma vítima, eu congelo. Se o mundo é rude comigo, eu me torno subserviente para que todos me amem.
Para que você entenda como esse processo acontece vou explicar sobre as reações fisiológicas que temos perante uma experiência traumática.
Já sabemos que o trauma afeta todo o organismo humano – o corpo, a mente e o cérebro.
Ao vivenciarmos uma experiência traumática nosso corpo é ativado e o nosso sistema nervoso central (SNC) reage rapidamente liberando os hormônios do estresse: cortisol e adrenalina.
Esses hormônios desencadeiam reações fisiológicas e emocionais (taquicardia, sudorese, choro, medo, raiva, desespero…) nos preparando para lidar com aquela situação ameaçadora.
Lá na infância ao vivenciarmos violência física, psicológica, sexual, negligência, abandono, rejeição, entre outras, o nosso corpo passa por esse processo de ativação do SNC e estabelece o sistema de alarme do nosso cérebro.
Cada indivíduo reage de forma diferente diante as experiências adversas da infância. Mas é comum a todos tornar-se hipervigilantes em relação as ameaças.
Ao longo dos anos ao menor sinal de perigo – real ou imaginário – o nosso sistema de alarme é acionado e respondemos a ameaça do presente da mesma forma que fizemos no passado.
É como se aquela situação adversa vivida na infância moldasse o nosso modo de viver. Geralmente a forma encontrada para lidar é disfuncional, mas naquele momento foi a nossa salvação.
Essa resposta encontrada para lidar com a experiencia dolorosa da infância torna-se o nosso modo de lidar com as ameaças futuras, ou seja, o nosso modus operandi.
Esse fará parte de nossa vida até que nossa estrutura psíquica seja recuperada.
Temos aqui as respostas disfuncionais mais comuns ao trauma, ou seja, o modo de operar que encontramos para nos proteger.
VOAR
Aquele indivíduo que precisou desviar o foco do seu sofrimento para seguir em frente. Ele precisa se manter o tempo todo ocupado, tornando-se um viciado em trabalho. Geralmente coloca a vida profissional como prioridade. É um pensador excessivo: tem excesso de preocupação, rumina problemas e está sempre se preparando para o pior. Geralmente são acometidos por ansiedade, pânico, TOC, dificuldade em ficar parado e perfeccionismo.
LUTAR
Esse aprendeu que mostrar-se imbatível, atacador seria a sua melhor forma de lidar com as ameaças. Via de regra, tornam-se pessoas controladoras, manipuladoras, arrogantes, codependentes (necessitam manter pessoas dependentes para se sentir importantes), as vezes apresentam comportamentos explosivos quando não conseguem o que querem ou quando querem calar o outro. É um perfil que causa sofrimento às pessoas com quem convive. Raramente admitem que precisam de ajuda psicológica, para eles isso é um sinal de fraqueza. Parecer fraco é tudo o que eles tentaram evitar desde a infância.
CONGELAR
São os indivíduos que precisaram congelar-se diante daquela situação dolorosa e vão para a vida com essa sensação de congelamento e paralisia. Sentem-se como se estivessem presas. Têm dificuldades de tomar decisões. Vivem dissociados, falam de situações traumáticas de sua vida sem expressar nenhuma emoção negativa. Têm dificuldade para tomar decisões. Na vida profissional não conseguem muito sucesso. Para alguns o isolamento é uma forma de sentir-se seguros.
Bajulador
Esse individuo aprendeu que precisava ser bonzinho e agradar para receber atenção e ser amado pelos seus cuidadores. Na vida adulta, usualmente tem dificuldade de estabelecer limites. Priorizam as necessidades dos outros em detrimento a sua. São capazes de passar por cima de suas emoções e aceitar maus tratos para evitar conflitos. Via de regra tornam-se dependentes afetivos.
Qual é o seu modo de operar na vida?
Seja qual for, saiba que é possível, com a ajuda de um profissional da psicologia, tratar a sua estrutura e ter um estilo de apego mais seguro seguro e saudável.
Recuperar-se significa pôr fim a toda essa mobilização do Sistema Nervoso Central e restaurar a segurança de todo o organismo.
Cuide-se!
Invista em sua saúde mental. Procure por um profissional da psicologia.