Antes de falar sobre o assunto vou esclarecer a diferença entre os termos codependência e dependência emocional. Percebo que muitos se referem a eles como se tivessem o mesmo significado.
O indivíduo codependente é aquele que necessita manter pessoas dependentes dele. Usa a dependência emocional, psicológica, financeira e física do outro para se sentir importante, necessário e querido.
Manter pessoas dependentes torna-se sua fonte central de autoengrandecimento. Esse ato é um falso impulsionador da autoestima. É um movimento muito penoso para codependente, pois ele precisa estar em constante esforço para manter a dependência do outro.
Já a dependência emocional ou dependência afetiva caracteriza-se pela dependência excessiva do outro.
O indivíduo dependente não suporta a ideia de ser abandonado, por isso nunca se coloca como prioridade nas relações. Vive numa incansável busca por aprovação. Passa por cima dos próprios sentimentos para agradar o outro e receber reconhecimento, atenção e afeto.
Os dependentes emocionais estão acostumados desde muito cedo a servir.
A origem da dependência afetiva está na infância. Período da vida em que o indivíduo não tem condições de avaliar o contexto e percebe as atitudes dos adultos como responsabilidade sua.
A criança busca afeto e atenção e por algum motivo seus cuidadores primários não têm condições de proporcionar isso à ela. O infante acredita que a indisponibilidade do adulto é responsabilidade sua, dando origem à crenças como: “não sou bom o suficiente”, “preciso me esforçar mais para o papai/mamãe gostar de mim”, “preciso ser bonzinho”, “não posso dar trabalho, tenho que ficar quietinho” etc.
Acontecimentos da infância que podem provocar sentimentos de desamor:
• Pais que não se conectam afetivamente com o filho;
• Pais indisponíveis emocional ou fisicamente;
• Pais com desajuste emocional, mental ou com qualquer tipo de adoecimento;
• Pais com o hábito de desqualificar e criticar o filho;
• Brigas perto da criança;
• Falecimento;
• Abandono.
Diante de situações assim, para conseguir lidar com a dor da rejeição e o medo de ser abandonado, a criança cria um modus operandi que tem como eixo norteador a crença de que precisa agradar para ser aceito e não ser abandonada.
Esta crença acompanha o indivíduo até a vida adulta e nessa fase esse modo de operar se expande para outras relações
Por que o adulto continua se comportando assim?
Para explicar a continuidade do modus operandi na vida adulta vou falar sobre os diferentes papeis internos que temos. Alguns autores os chamam de estados de ego, galera interna, personagens internos, partes do Eu, etc. Que fique claro que nada tem a ver com dupla personalidade ou personalidade dissociativa.
O importante é entendermos que estas partes são distintos modos de operar (comportamentos) e que estes se manifestam de acordo com as emoções, pessoas que relacionamos e situações externas que vivenciamos, as quais atuam como gatilhos das partes internas.
Estas partes foram formadas a partir de experiências negativas que vivenciamos e que ficaram “arquivadas” em nosso cérebro de maneira disfuncional.
Se você observar irá perceber algumas “vozes” ou comportamentos diante de determinadas situações: Tem aquela voz que te chama de burro toda vez que erra. Tem o pessimista que te fala, “isto não vai dar certo”, te impedindo de agir. O crítico que coloca defeito em tudo e todos, nada está bom. As vezes que você se comportou como uma criança ou adolescente mesmo sendo um adulto. Tem também aquelas partes que te fazem agir como seus pais, mesmo quando o que mais quer é diferir deles.
Cada um de nós temos a nossa turma interna. Imagine-os dentro de um carro. Este carro simboliza a vida. Em cada vivência é uma persona desta galera interna que senta no “banco do motorista” e pega a direção.
Acredito que você já está identificando alguns de seus papéis e pensando: “Poxa! naquele momento foi um raivoso que pegou a direção e me causou tantos problemas. Como faço para controlar esta turma aqui dentro?”
Alguns papeis identificamos com facilidade e até conseguimos colocá-los no banco detrás, outros precisamos prestar muita atenção e fazer terapia para entender o que está acontecendo conosco e para ensinar esta turma a viver em harmonia.
Tomar consciência dos nossos papeis é o primeiro passo para entendermos o porquê que temos determinados comportamentos.
Como dito, cada um tem seus papéis internos, mas existe um que é comum a todos nós. Todos temos a nossa criança interna e a trazemos para a vida adulta.
A nossa criança interna é muito atuante em nossa vida, seja na criatividade, leveza, nos momentos de descontração, o problema está quando ela invade a direção nos momentos que só o adulto pode atuar.
No caso da dependência emocional, aquela criança que em algum momento não se sentiu amada como gostaria e aprendeu que precisava se esforçar muito para agradar e ser reconhecida, invade o “banco do motorista” nas relações do adulto, em busca daquilo que não recebeu na infância. É como se o adulto enxergasse pelos olhos da criança.
Na vida adulta o pedido de aprovação é também direcionado ao parceiro afetivo, chefe, professores, amigos e familiares.
Os dependentes emocionais são presas fáceis para os narcisistas e fatalmente entrará em relacionamentos abusivos. E mesmo quando não se relacionam com narcisistas, entram nas relações passando a mensagem que está ali para servir, o que fará com que o abuso aconteça.
Este adulto vai continuar operando assim, enquanto não curar as feridas da criança interna para que essa parte infantil deixe de assumir a direção em busca de afeto e reconhecimento.
Cuide-se! Fazer psicoterapia é um ato de amor próprio.